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A Luz de Malta

Férias de verão de 2017 e eu precisava imensamente de luz solar. Inverno e primavera na Europa tinham sido bem aproveitados e devidamente experimentados, mas era tempo de ir para a rua de vestidinho e chinelos e sentir o sol abrasar a maçã do rosto! Onde, então?

Eu não tinha ideia, mas tinha muitos desejos: precisava ser um lugar descolado, vibrante, onde eu pudesse livrar o espírito dos inúmeros “don’t” (don’t speak loud, don’t talk in the mobile while you are at the train, don’t use fancy colors, don’t use too much make-up, don’t listen to the music too loud, don’t sing that favourite music in public, don’t smile for the people, don’t use bikini, don’t flush the toilet after 10 pm, don’t, don’t ... ok just don’t ...). Eu já estava quase perguntado para mim mesma se era permitido respirar em Lilliput!

E, sim, Malta foi tudo isso em minha vida! Foi luminosidade e alegria. Foi espontaneidade e sorriso sincero. Foi um desfile de gente linda e de bem com a vida na praia de areia cinza: era permitido maquiagem, biquini e bolsa de grife no mar! Foi musical e foi harmoniosa. Foi infantil e brincalhona comigo. Foi de uma fartura na mesa e de um coquetel de boa comida!

Duas semanas de sol e brisa quente, em que eu, Didier e Petite nos esbaldamos na praia, nos castelos de areia, na baía de águas calmas (St. Julian’s Bay), nas piscinas do hotel, no aquário, nos passeios com a vovó e o Papa Didier.

Escrevendo, assim, parece que foi sonho. Valletta, dourada no pôr do sol, está sempre em mim. Quando chove e acinzenta em Lilliput, ou quando os “don’t” me cercam com suas lanças, eu penso em Malta: em um ponto por lá, alguém escuta música com os pés cheios de areia enquanto lambisca lulas e camarões. Então, se a luz de Malta faz alguém feliz, meu coração pulsa forte, e esse acalento do verão passado me entorpece e me anima.

Diz a lenda que a caverna onde Calypso manteve Odisseu preso por 7 anos, como um prisioneiro do amor, está no arquipélago de Malta (na Ilha de Gozo). Lá também está a Ordem de Malta (dos Cavaleiros Hospitalários), numa simbiose mítica entre militarismo e cristandade. Tem o romantizado arco de pedra (“Janela Azul”), que antes de desabar em março de 2017, havia sido cenário de “Game of Thrones”, “Fúria de Titãs”e “O Conde de Monte Cristo”. O arquipélago também sedia a intacta cidade cenográfica de “Popeye, the Sailor Man”, que virou parque de diversões.

Mas, Malta não precisa de cartões de visita. Eu não a adorei por nada disso. Malta é digna de nota pela simplicidade e verdade do slogan de Valletta: “A city built by gentlemen for gentlemen”.

É uma cidade lotada de turistas? Sim, toda magia traz consigo um certo grau de sufocamento. Mas, sinceramente, eu não me importei, porque se eu quissese silêncio, respeito e individualismo eu não teria saído de Lilliput, oras!

Uma música para me lembrar de Malta? “Safe and Sound”, do Capital Cities: em nome das inúmeras baladas noturnas (que eu não fui!), em nome de tudo que é passageiro, mas que nos revela uma sensação amena de se sentir acolhida e segura num lugar:

I could lift you up

I could show you what you wanna see

And take you where you wanna be.”

E também, “Here Comes the Sun”, porque realmente tinha sido um “long cold lonely winter” e, com Malta eu voltei a aprender como o Sol pode ser generoso.

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