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Intervalo de Outono 2017: porque a mente precisa estar solta e em paz.

Na primeira quinzena de outubro tivemos o “autumn break”, mais um dos inúmeros intervalos do calendário educacional de Lilliput. Aqui não temos tantos feriados nacionais ou religiosos mas, em compensação, para cada mudança de estação temos, em média, 15 dias de férias. Quando soube disso, fiquei atordoada: como inventar tanta coisa para fazer com as crianças a cada 2 ou 3 meses? Como vencer o tédio, principalmente, do início do outono?

Folhas amarelando-se, vento soprando alto, dias cinzentos, noite chegando as 17 horas... e crianças em casa...

Sinais do outono

Ano passado, eu me exasperei. No começo, enfrentei o frio, fui para o parque ao ar livre, coloquei as crianças de gorro e nariz escorrendo para correrem contra o vento e fiz cara de que estava tudo maravilhoso... Até fomos aos Museu Tinguely (https://www.tinguely.ch/de.html) um dia, mas era como se eu não estivesse com a cabeça lá naquele ambiente (e realmente não estava... pois, tinha acabado de levar um sonoro “não”num projeto de pesquisa).

Chafariz do Museu Tinguely

Essa ilusão de viver a vida como os demais vivem durou uma semana. Nos últimos 7 dias eu aceitei o desânimo que batia incessantemente nas minhas costas: “É isso aí gente, assistam televisão o quanto quiserem, quantas séries quiserem, desmontem todas as coleções de Lego, espalhem tudo pela casa... só não me chamem para colocar o nariz para fora da porta! Vejam como é divertido ver a noite chegar da janela aqui de casa”.

Esse ano foi diferente. Eu me preocupei também: “Todas essa quantidade de dias sem escola, de novo!”. Mas, eu soube ser eu mesma. Sem pressões: assimile-se ou morra. Eu já havia descoberto, faz um certo tempo, que sou um ser não assimilável. É... além de ser uma mulher ácida – que nem todo o açúcar de Cuba seria capaz de me adoçar (lembrando das palavras de Vinícius de Morais, em “Química Orgânica”) – eu também sou daquelas bem teimosas, que se recusam à conformação. Foi assim, do meu modo, que vivemos esse intervalo outonal.

Nos primeiros dias, Didier tinha aulas de esportes (tênis, xadrez e zumba) no clube. Agora, lembrando-me daquelas manhãs, eu sei que Didier se esforçou ao máximo para enfrentar toda aquela orda de ritmo, frenesi, regras, horários, crianças desconhecidas, professores pouco amáveis, comida pronta, cenouras de lanche... No terceiro dia em diante, ele me disse que só iria porque sabia que a semana seguinte seria só nossa (minha e dele).

E, foi verdade. Nas maluquices do calendário de Lilliput, Didier estava de folga enquanto Petite tinha aula normal. Então, foram mesmo dias de mãe e filho único. E sendo, assim, tão diferente, quebramos regras também: “Vamos observar os cervos no Schwarz Park? Vamos aos museus ver as novas exibições? Vamos tentar desenhar os quadros?”.

No Kunstmuseum havia Chagall (https://kunstmuseumbasel.ch/de/ausstellungen/2017/chagall). E, na Foundation Beyeler perfilavam-se as obras de Paul Klee (https://www.fondationbeyeler.ch/klee/). Foi simples e cativante. Didier e eu partilhamos a mesma folha de papel. Rabiscamos e soltamos um sopro de renovação a cada tracejado do lápis. Foi do brilho dos seus olhinhos castanhos que eu percebi que todos podem ser artistas. Oportunidade, esforço, liberdade e amor pela arte!

Foram momentos tão suaves, que não conseguimos nos esquecer. No último dia da semana, fomos até comprar tinta, telas e pincéis: estávamos impregnados com a vagueza das cores e formas! Fizemos planos de pintarmos um quadro juntos!

Só que... até agora não passam de planos, porque, num modesto ímpeto, eu queria pintar algo estrondoso como “La Chute de L’Angle/Falling Angel” de Chagall (http://www.marcchagall.net/the-falling-angel.jsp) ; e Didier gostaria de justapor geometrias florescentes à moda de Klee (https://www.fondationbeyeler.ch/klee/). Ficamos no impasse, pensamos também em fazer tudo ao mesmo tempo. E nos calamos...

Naquela noite, antes de dormir, eu balbuciei para Didier: “Foram incríveis esses dias ao seu lado! Não era para fazermos nada... e fizemos tanto juntos. Eu vou sentir falta quando você for amanhã para a escola...”. Ele concordou, com aquele mesmo sorriso meigo que já se via desde as suas imagens na ultrassonografia.

Em certos momentos, a magia está no inesperado. E para viver esses tempos, é preciso estar de olhos bem fechados e mente solta. Eu estive em paz comigo naquela colossal frieza do mármore cinza do Kunstmuseum.

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